Benigna Cardoso da Silva

Benigna Cardoso da Silva (15 de outubro de 1928 — 24 de outubro de 1941) foi uma jovem católica brasileira. Cidadã de Santana do Cariri, no Estado do Ceará, ela foi barbaramente assassinada aos treze anos de idade, ao defender-se do assédio por parte de um jovem da mesma idade, que, enfurecido, golpeou-a com um facão. Desde então tornou-se alvo de devoção por parte de religiosos que a consideram uma mártir da castidade. Em 2011, a Diocese do Crato deu início ao seu processo de beatificação. Em 2013, a causa foi aceita pela Congregação para a Causa dos Santos, e Benigna foi declarada Serva de Deus. Aos 3 de outubro de 2019, a Santa Sé promulgou, por mandato do Papa Francisco, o decreto de reconhecimento do seu martírio, o que lhe abre as portas para a próxima beatificação.

Biografia

Benigna nasceu no Sítio Oitis, no povoado de Inhumas, Santana do Cariri, a mais nova dos quatro filhos de Teresa Maria da Silva e José Cardoso da Silva. Os irmãos de Benigna chamavam-se Carmélia, Alderi e Cirineu. Benigna não conheceu seu pai, que morreu antes de ela nascer, e perdeu a mãe com apenas um ano de idade. Ela e irmãos foram então adotados pelas irmãs Rosa e Honorina Sisnando Leite, proprietárias do Sítio Oitis. Elas cuidaram para que Benigna frequentasse a escola e a Igreja.

Ao que consta, não existem registros fotográficos de Benigna. Segundo contemporâneos, ela tinha estatura mediana, era magra, de cabelos e olhos castanhos meio ondulados; tinha pele morena clara, rosto arredondado, queixo afinado e um leve estrabismo num dos olhos. Era aluna dedicada e fiel assídua às missas na Igreja Matriz de Santana. Além disso, ela também realizava tarefas domésticas, prestando auxílio a suas tutoras, que eram idosas e tinham problemas de saúde.

Aos doze anos, Benigna passou a ser abordada por Raimundo Alves Ribeiro, conhecido como "Raul", um menino de mesma idade e residente na vizinhança do Sítio Oitis, que tinha intenções amorosas para com ela. Benigna, que não estava interessada em iniciar um relacionamento amoroso, o rejeitou. Ela procurou a orientação do pároco da cidade, padre Cristiano Coelho Rodrigues, sobre esta questão. Este a aconselhou a resistir firmemente e lhe presenteou com um livro ilustrado sobre histórias bíblicas.

Raul, porém, continuou insistindo, cada vez mais violento. Depois de várias tentativas sem sucesso, na tarde de 24 de outubro de 1941, ao saber que Benigna iria buscar água numa cacimba próxima de sua casa, ele decidiu esperá-la, escondido na vegetação. Ele então a surpreendeu e tentou agarrá-la à força. Benigna mostrou-se resistente. Tomado de fúria, Raul sacou de um facão que trazia consigo e a golpeou quatro vezes. O primeiro golpe cortou três dedos da mão direita da menina, que esboçou um gesto automático de defesa. O segundo atingiu a testa; o terceiro, os rins; e o quarto e fatal, no pescoço, que praticamente a degolou.
Ao tomar consciência de sua ação, Raul evadiu-se. O corpo foi encontrado por seu irmão Cirineu, que havia saído à sua procura. O cadáver foi então levado para ser periciado e sepultado na manhã do dia seguinte no Cemitério Público São Miguel. A polícia conduziu uma investigação que durou dias. Alguns suspeitos foram presos, inclusive Cirineu, irmão de Benigna, até que Raul fosse finalmente capturado. Ele foi levado para um abrigo de menores em Fortaleza e cumpriu pena. Cinquenta anos depois, ele retornou ao local do crime, que se tornara alvo de peregrinações, e expôs seu arrependimento.

Heroína da Castidade

O assassinato de Benigna causou grande comoção na comunidade local devido tanto por suas motivações quanto por seus requintes de crueldade. O local onde ela foi morta e seu sepulcro logo tornaram-se alvo de visitações de piedosos, depois de devotos e peregrinos.
O pároco Pe. Cristiano Coelho Rodrigues, que fora mentor espiritual da jovem, foi grande incentivador da devoção a ela. Ao tempo do assassinato, ele escreveu a seguinte nota ao lado do registro de batismo de Benigna:
Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no sitio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha.
Ele pediu à família de Benigna que lhe desse o pote que ela carregava no momento do assassinato e guardou-o consigo. Em tempos de seca, costumava orar, rogando a Benigna para que ela intercedesse junto a Deus para que chovesse, fazendo o gesto de simbólico de colocar o pote sob uma biqueira.

No local de sua morte foi erigido um monumento com uma cruz, e na beira da estrada, nas proximidades do distrito de Inhumas, uma lápide, onde as pessoas pagavam suas promessas, acendiam velas e elevavam várias preces à jovem mártir.
Em 2005, o líder comunitário Ary Gomes do Nascimento idealizou e realizou em sistema de mutirão com a comunidade, a construção do Santuário-Memorial da Jovem Benigna, que foi inaugurado e entregue à Paróquia em 24 de outubro de 2005. Ali encontram-se expostos em redomas de vidro: o pote conduzido por Benigna, seu vestido feito por sua madrinha Irineia Sisnando, seu batistério e duas esculturas em madeira mostrando a cena do martírio de Benigna, esculpidas pelo devoto e incentivador Francisco Agostinho Pereira.

Processo de beatificação

A Diocese de Crato iniciou em 2011, setenta anos após a morte de Benigna, as pesquisas para abertura do seu processo de beatificação, tendo como postulador o Monsenhor Vitaliano Mattioli. Em 26 de maio de 2012, os restos mortais de Benigna foram transladados para a Igreja Matriz de Santana do Cariri.
Em fevereiro de 2013, O bispo de Crato, Dom Fernando Panico, recebeu correspondência do cardeal Angelo Amato, presidente da Congregação para a Causa dos Santos, comunicando a concessão do “Nihil Obstat”, ou seja, o “Nada Impede” para a abertura do processo de beatificação, o qual foi aberto oficialmente em 16 de março seguinte. A partir de então, Benigna recebeu o título de Serva de Deus. 

Dom Fernando então nomeou uma comissão formada pelos monsenhores Vitaliano Mattioli (Postulador Diocesano) e João Bosco Cartaxo Esmeraldo ( Juiz Delegado), os padres José Vicente Pinto de Alencar (Promotor de Justiça) e Acúrcio de Oliveira Barros (Tradutor), além da sra. Teresinha Fernandes Costa (Atuária Notária). Pela Comissão Histórica: Raimundo Sandro Cidrão, Ypsilon Rodrigues Félix e Armando Lopes Rafael. Que iniciaram a recolher declarações de pessoas que conheceram Benigna em vida, além de relatos de milagres alcançados por intercessão dela. Esta foi a fase diocesana do processo, a qual foi concluída em 21 de setembro de 2013.

Toda a documentação produzida pela comissão foi levada para Roma e protocolada junto à Congregação para a Causa dos Santos. Em 2016, o Vaticano chegou a buscar depoimentos de pessoas que viveram entre 1940 e 1980 para fortalecer a tese do martírio cristão da jovem Benigna. Em outubro de 2018, a causa foi aprovada pela Comissão dos Teólogos da dita Congregação. O Papa Francisco reconheceu o martírio de Benigna e o processo para sua beatificação, assim como de outros quatro servos de Deus, foi finalizado em 3 de outubro de 2019.

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